domingo, 28 de outubro de 2012

Toro Loco, Stanley Kubrick e uma leve dor de cabeça

Confesso que fiquei muito ansioso nos dois meses de espera pelo "Toro Loco Tempranillo". Queria saber o que fez daquele vinho de 3 Euros, servido como opção acessível em restaurantes espanhóis, ter sido o segundo colocado entre mais de 900 fortes concorrentes em um teste cego. Ao mesmo tempo, fiquei um pouco desconfiado. Se o vinho era tão violento assim, porque a Wine o venderia por apenas 25 Reais? Minha desconfiança se concretizou: o Toro Loco não tem nada muito especial. Não possui um aroma incrível, o gosto do álcool chega a disfarçar o sabor da uva e, minutos depois de secar a garrafa, tive uma leve dor de cabeça. Tudo bem, não sou nenhum grande entendedor de vinhos, nem adotei métodos convencionais para avaliá-lo. Para mim, vinho bom precisa ser saboroso, ter aroma agradável, fazer com que eu tenha vontade de beber até o fim da garrafa e, acima de tudo, não me deixar de ressaca no dia seguinte. Se o vinho é bom para o meu padrão, sinto vontade de tomar novamente. Caso contrário, sempre sobra um pouco na garrafa, como aconteceu com o glorioso "Toro Loco". Quase ao final do filme que víamos pela primeira vez, "Lolita" de Stanley Kubrick, a bebida me bodeou e deixei para ver o finalzinho no outro dia. Filmaço... Quanto às outras garrafas do vinho espanhol, tomarei mais uma para ter uma segunda opinião e darei as restantes para os amigos conhecerem. No mais, muita propaganda e pouco desempenho. Nada que os chilenos de supermercado não façam muito melhor.

Paris é uma Festa - Memórias de Hemingway nos Anos 20

Cafe Du Dome: o preferido de Ernest Hemingway
“Se você teve a sorte de viver em Paris, quando jovem, sua presença continuará a acompanhá-lo pelo resto da vida, onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa móvel, que se carrega no coração.”

 Muitas obras retrataram a Paris dos anos 20, mas ninguém o fez com tamanha propriedade como Ernest Hemingway. Não podia ser de outra maneira: ele estava lá e foi um dos protagonistas de uma das épocas mais loucas da humanidade. Lançado em 1960, "Paris é uma festa" traz as memórias do autor de "O velho e mar", em sua primeira passagem pela "Cidade Luz", enquanto integrou a chamada "Geração Perdida". Do início de sua amizade com Gertrude Stein, à maneira besta como a convivência deles terminou; do relacionamento conturbado com outros escritores, até detalhes íntimos da vida de Scott Fitzgerald e Zelda, tudo é interpretado com uma incrível riqueza de detalhes. Confesso que nem imaginava que o criador de "O Grande Gatsby" fosse tão paranoico e completamente dominado por uma mulher viciada em noitadas. Eu que costumo não lembrar no jantar o que comi no almoço, fiquei admirado de ver como o autor lembrou-se do semblante de seus interlocutores e  de suas roupas, dos detalhes do ambiente e de diálogos inteiros com seus amigos imortais. Algo que me chamou a atenção foi que, em momento algum, Hemingway fez referências ao som que estava ouvindo. Ele lembrou-se dos nomes das bebidas, das pessoas que estavam à sua volta e do tempero dos pratos, mas não diz o que estava tocando nos ambientes dos cafés. Será que reinava o silêncio na década de 20? Woody Allen não esteve lá mas imaginou o momento com Cole Porter e Josephine Baker (vide o filme Meia Noite em Paris). Será que o escritor não era chegado num bate coxa? Com ou sem som, esta foi mais um obra incrível do meu autor favorito. 
Hemingway e amigos frequentam cafés parisienses.
 "Paris não tem fim, e as recordações das pessoas que lá tenham vivido são próprias, distintas umas das outras. Mais cedo ou mais tarde,não importa quem sejamos, não importa como o façamos, não importa que mudanças se tenham operado em nós ou na cidade, a ela acabamos regressando. Paris vale sempre a pena e retribui tudo aquilo que você lhe dê. Mas, neste livro, quis retratar a Paris dos meus primeiros tempos, quando éramos muito pobres e muito felizes."

sábado, 20 de outubro de 2012

Stanley Kubrick e os planos com perspectiva simétrica

Muito interessante a maneira como Kubrick transformou - em cada detalhe - seus filmes em verdadeiras obras de artes. Através desse vídeo é possível compreender como funciona o olhar de um verdadeiro gênio.

O velho e o mar - a obra mais perfeita que já li

Quando decidi ler todas as obras de Ernest Hemingway, um mundo novo se descortinou diante dos meus olhos. Nunca me identifiquei tanto com um escritor e suas aventuras, como com este integrante da "geração perdida". Há alguns minutos, terminei "O velho e mar" que é, sem dúvida, a obra mais perfeita que já conheci. Incrível como ele conseguiu condensar uma história tão linda em apenas 130 páginas, que me emocionaram do princípio ao fim. Até agora, não consigo deixar de pensar no velho Santiago, em sua persistência infinita, ao pescar um imenso espadarte. Jamais li nada igual. Incrível.
"Lembrou-se da ocasião em que pescara um casal de espadartes. O peixe macho deixa sempre que a fêmea se alimente primeiro, e de fato assim fora: a fêmea mordeu a isca e, sentindo-se presa, encheu-se de medo, lançando-se numa luta selvagem e desesperada que depressa a cansou. Durante todo esse tempo o macho ficou ao lado dela, atravessando a linha e circundando-lhe em volta a tona da água. Andara tão perto, que o velho chegara a ter medo que ele cortasse a linha com a cauda tão aguçada e quase tão grande como uma foice. Quando o velho a enganchou e lhe deu uma serie de pancadas que a deixaram quase morta e, depois, com a ajuda do garoto, a içou para bordo, o macho ainda continuou junto ao barco. Depois, quando o velho estava limpando as linhas e preparando o arpão, deu um grande salto no ar, mesmo ao lado do barco, para ver onde estava a fêmea, e voltou a mergulhar nas profundezas com as asas brancas, as barbatanas peitorais, completamente abertas, numa posição majestosa e dolorida." - Página 53.